domingo, 30 de novembro de 2008


Hoje estive contigo durante todo o dia, sempre estás comigo, mas hoje foi um pouco diferente. Falamos-nos, eu mais do que você, claro, não tem porque ser diferente. Os assuntos foram banais, e sua voz em alguns momentos ficava turva.

Apesar da conversa ter sido apenas uma conversa com um ponto, eu senti um vazio - tenho procurado me guiar pela minha intuição, estar atenta a ela e nela acreditar -, e por mais que eu não quisesse acreditar, já não é. Em um momento falei de nós, não me lembro exatamente o quê, mas sua resposta foi que agora você está cada vez mais pensando com a cabeça daí. Agora eu me questiono por que não te perguntei o que você queria dizer com isso, a questão é que também não importa.

Ao longo do dia questionei minha intuição, pois sabendo o tanto de amor que tenho por ti algo está fora do lugar! Pensei ser o momento de individualidade que temos que ter para crescer e mais na frente nos encontrarmos, já pensei em ir te ver, mas como tenho que renovar meu passaporte isso demanda uma burocracia que me dá tempo para outros questionamentos... Se você não está afim, ué? Tenho que te respeitar! Onde eu ficaria, pois já não somos um casal e hospedar-me na casa de sua mãe seria algo estranho.

Se eu ao menos tivesse aonde me agarrar... Qualquer limite que você coloque, já pedi que me falasse, olha só aonde cheguei, que não me quer. Mas não, para você não é tão simples assim. E o amor... Hoje mesmo repetiu sua teoria vazia que não dá para definir sentimentos. Então me diz o que é isso que sinto? Já tentei te ignorar, não falar, sair, paquerar... Até conheci pessoas interessantes, ai... Mas logo fico com irca, sem paciência. Não dá! Essa coisa que sinto é grande! E continuo no mesmo lugar... Mas não há força.

Meu coração explode... Sei que você me questionaria o que tem a ver o coração com sentimento. Mas agora eu te diria foda-se. Já que meu grande amor é meu eu o sinto assim... Em forma de coração vermelho, latejando e sangrando dentro de mim. Ai... Como te amo e como gostaria de não te amar... Só por mim, sem nenhum motivo mais.

Hoje me veio à cabeça sendo esse sentimento uma ilusão, pois se não é recíproco é ilusão, por que eu o sinto assim tão imenso? Afinal, você é bem complicadinho, consigo enxergar seus defeitos e alguns medos. Será que eu juntei o amor que teria que sentir por outras coisas e o canalizei para você? Éramos amigos e compartilhávamos formas de ver a vida. Isso bem que pode ser... Como com meus amigos não tenho essa afinidade de olhar roubei o amor que é deles por direito e o entreguei a nós, as nossas conversas, as nossas viagens, a falta de problemas em conviver com baratas e ficar alguns dias sem tomar banho. Como não podia sequer imaginar que no mundo existiria uma pessoa tão sem frescura quanto eu, isso me encantou! Só pode, foi aí que criei minha ilusão.

Agora continuo aqui chorando. Talvez não fosse maravilhoso tê-lo ao meu lado, também vivíamos momentos tensos, mas a verdade é que esses momentos também fazem parte... Ai chega, isso tem que mudar, por que é difícil amar?

Não importa, não importa nada, pois senti vazio, ou melhor, não senti. Então, quero que o sofrimento tome o meu corpo em toda sua amplitude. Quero que ele venha e me domine com força! Com a mesma força dos momentos que construí o meu amor. Quero sentí-lo, me permito me abro para que ele penetre em cada parte do meu ser... Quero purgar o amor, pois ele é solitário e só causa dor!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Deixo...

Sinto a importância do deixar para trás... Isso tem tomado meus dias depois de uma conversa com novos amigos que já têm muito do meu tempo. A pauta era exatamente essa: a importância de se deixar coisas para trás para continuar a caminhar. Eita... Será? Questionava-me isso durante a conversa. Ao mesmo tempo em que concordava com os exemplos e colocações, fiquei escutando e sentindo o que tinha que deixar... Por um momento não quis, mas sabia que era preciso.

Comecei a exercitar isso em vários sentidos, imagine! Logo eu, tão sentimental, que me apego tanto a tudo que passa pela minha vida! Isso era muito bonito na teoria, mas na prática, para mim, não funcionava! A questão é que eu não queria que funcionasse. Precisava de algo para me agarrar, de uma causa para que o amanhã fosse válido. Daí vinha minha força...

A roda da vida não é essa! As minhas sombras estão dentro de mim, as suas dentro de ti! O reflexo de nós mesmos que nos assusta e nos gera a necessidade de nos agarrarmos algo que não é nosso. Somos um dentro de um todo, portanto, enxergar esse um antes de olhar para o todo é fundamental, se não nos perdemos, estamos perdidos por esperar...

Então, resolvi tentar, deixar para trás lugares, amores, amigos, ideais... Engraçado, hoje vejo como isso é possível e necessário! O sofrimento está justamente no apego. A vida é movimento constante! E tudo fica em um tempo que já não é! Temos que aprender deixar as pessoas, os lugares, os amores, os amigos, e também os ideais, que são só idéias construídas, nesse tempo que passou. Não dá para estagnar!

É preciso fechar os ciclos para não querer voltar no tempo para catar os pedaços de nós mesmos. Deixar que as coisas fluam, jogar no universo... Ele conspira! Somos energia. Deixar o vício do sofrimento e continuar... Muitas coisas ficaram para trás, algumas voltaram, e voltarão sempre, outras seguem comigo... A vida é cíclica. O meu tempo olha por mim... Depois para você... E o seu tempo, onde está?

Praticar o amor é incrível! Claro, há amores e amores, também existem os desamores, mas para que você dá o seu tempo? Quem é você que reflete minhas sombras? Não sei. Também não quero saber ao menos que você queira me contar e eu possa escutar.

Temos muito a aprender... Muito... Mas temos que aprender a amar! Amar o um! Você se ama? Você acolhe, recebe o que é seu? Não dá para lutar com nossas sombras, elas são nossas. Mas quem sabe se a aceitarmos e a deixarmos no seu tempo vamos nos esvaziar do que foi para dar espaço ao que é?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

CAPITU

Parecia uma menina alta que fazia graça ao andar, perdia-se observando paisagens de outro lugar. Seu vestido era de seda japonesa disseram, mas não conseguia enxergar o valor disso, ainda mais porque o vestido parecia dar bolinhas, mesmo sendo a primeira vez que o usava.

A leveza da seda não permitia que marcasse suas curvas, os cabelos pretos, enrolados na altura dos ombros eram adornados com um lenço de cores que conversava com sua bolsa rosa. Seus gestos eram suaves e sem pressa... Purgava alguma magia, suas unhas eram vermelhas! Porém, não usava saltos altos... A verdade é que já tinha uma altura que se fazia ver! Mesmo assim não gostava dos saltos.

Não deixei de observar a menina que cruzava e descruzava as pernas ao ouvir falar de Bentinho. Ele não estava ali, pelo menos não a sua pessoa. Ela o buscava em cada palavra e seu olhar infantil chamava atenção para seus seios que ressaltavam de maneira singular nos detalhes de renda do decote discreto.

Sua postura naquela sala vazia era elegante. Cheguei mais perto e ao ver suas unhas que estavam por fazer senti algo de mulher na menina. Fiquei confuso. Notei todos que estavam na sala de repente também a observavam, desviavam os olhares atraídos por algo que não encontro a palavra. A aparente inocência e tranqüilidade assustava.

Mas ela não percebia. Não tinha energia para conversas banais. Dava algo do seu tempo para falar de política, organizações coletivas e dos assuntos da ementa. No mais, quando sentia que a conversa começava a invadir sua alma, não permitia. Um passo e mergulhava mais uma vez nos lugares distantes. Era do mês doze, imagina... Sei que posso penetrar a alma de Bentinho.

Seu brilho era de estrela, por isso as pessoas a olhavam, assim, como de passagem, deixava saber que estava ali. Seu brilho não ofuscava como o sol, apenas seduzia com sua desatenção. Foi então, que ao começar a segunda fala sentiu que tinha que deixar Bentinho para trás. Já passava das 12h30min e a esperavam no hall da entrada para mais um seminário sobre fazer políticas para o que já é. Levantou... Onde a mulher escondia-se apareceu a repulsa.